A função perversa dos contos de fadas
Ao invés de desenvolver suas próprias capacidades, meninas aprendem a esperar pelo “homem salvador”
Regina Navarro Lins
Não tenho dúvidas de que os contos de fadas são prejudiciais às crianças. Mas será que pais e professores se dão conta disso? Será que percebem quais tipos de ideias estão passando para as crianças, subliminarmente, por meio desses contos? Cinderela, Branca de Neve, Bela Adormecida. Modelos de heroínas românticas, que, ao contrário do que se poderia imaginar, no que diz respeito ao amor, ainda são parecidas com muitas mulheres de hoje. Mas isso não é à toa.
Desde a Antiguidade as mulheres detinham um saber próprio, transmitido de geração em geração: faziam partos, cultivavam ervas medicinais, curavam doentes. Na Idade Média seus conhecimentos se aprofundaram e elas se tornaram uma ameaça. Não só ao poder médico que surgia, como também do ponto de vista político, por participar das revoltas camponesas. Com a “caça às bruxas”, no século XVI, 85% dos acusados de feitiçaria eram mulheres. Milhares delas foram executadas, na maior parte das vezes queimadas vivas.
Segundo os manuais usados pelos inquisidores, é pela sexualidade que o demônio se apropria do corpo e da alma dos homens, dominando-os através do controle e da manipulação dos atos sexuais. Não foi assim que Adão pecou? Como as mulheres estão essencialmente ligadas à sexualidade, elas se tornam agentes do demônio (as feiticeiras). Rose Marie Muraro na introdução do livro “O martelo das feiticeiras”, escrito por dois inquisidores em 1484, chama a atenção para um detalhe importante: “eram consideradas feiticeiras as mulheres orgásticas e ambiciosas, as que ainda não tinham a sexualidade normatizada e procuravam se impor no domínio público exclusivo aos homens.”
No entanto, o mais grave nos contos de fadas é a ideia de que as mulheres só podem ser salvas da miséria ou melhorar de vida por meio da relação com um homem. As meninas vão aprendendo, então, a ter fantasias de salvamento, em vez de desenvolver suas próprias capacidades e talentos. As heroínas das histórias estão sempre ansiosas em fazer o máximo para agradar ao homem, ser como ele deseja, e acreditam que adequar seu corpo à expectativa dele é fundamental. Não se esqueça de que Cinderela e todas as moças do reino tentam se ajustar ao sapatinho encontrado pelo príncipe — a madrasta orienta as filhas a cortar um pedaço do pé para corresponder ao que o homem espera delas.
A historiadora americana Riane Eisler afirma que “essas histórias incutem nas mentes das meninas um roteiro feminino no qual lhes ensinam a ver seus corpos como bens de comércio para conseguirem pegar não um sujeito comum, mas um príncipe, status e riqueza. Em última análise a mensagem dos ‘inocentes’ contos de fadas, como Cinderela, é que não somente as prostitutas, mas todas as mulheres devem negociar seu corpo com homens de muitos recursos.”
Em vez de desenvolver suas próprias potencialidades e buscar relações onde haja uma troca afetiva e sexual, em nível de igualdade com o parceiro, muitas mulheres se limitam a continuar fazendo tudo para encontrar o príncipe encantado.
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Há um tempo atrás perguntei a algumas pessoas o que eles pensam a respeito dos contos de fadas.
A grande felicidade não é encontrar um homem, é encontrar a si própria. Se a mulher encontrar um parceiro, tudo bem, mas se não encontrar, ela está ótima. O grande encontro do homem e da mulher é cada um consigo próprio. Cláudia Alencar (atriz)
Estamos caminhando para a dissolução do molde romântico. É um processo muito lento, talvez demore 100 anos; o ser humano levou um tempão para construir esse projeto de infelicidade. Ele chegou ao apogeu no século XIX e só nos demos conta da falência disso na virada do século, quando o Dr. Freud preconizou que o ser humano só pensa em sacanagem. Coisa que a gente já sabia há muito tempo, mas só se tornou explicitada a partir da reflexão dele. A partir dessa incompatibilidade entre a superestrutura dos sonhos e a infra-estrutura dos instintos estamos vivendo um momento conflitivo em que as coisas estão se transformando para melhor, principalmente nessa área da sexualidade e dos afetos. Geraldo Carneiro (poeta e escritor)
Há toda uma estrutura vigente que desinforma e continua insistindo nessas mentiras. As próprias novelas criam um romantismo falso, bastante prejudicial e os danos são profundos. Mas as questões sobre amor e sexo são vitais por estarem estreitamente ligadas à nossa felicidade. Chico Azevedo (dramaturgo e escritor)
“O Grande Massacre de Gatos” do historiador Robert Darnton, para quem estiver interessado é um ótimo livro para se dialogar com os contos dos Irmãos Grimm e as questões das princesas. Não segue apenas pelo viés freudiano ao analisá-los, o que é um alívio na minha opinião.
[…] Entonces….a mulher é ensinada, desde a mais tenra idade, que ela só será aceita e respeitada se estiver num contexto familiar e sob a proteção de um homem. Que ela só terá sucesso e segurança financeira quando encontrar um homem. Não é o que os contos-de-fada ensinam? […]
Sou nascida nas Minas Gerais.Criada em uma cidadela pequena, de forma muito simples onde todo nosso sustento era retirado das nossas terras.Meu pai unico homem de uma familia de 04 filhos, inteligente, mas porem criado em um meio onde o homem é quem manda.Onde o homem que conseguir colocar alimentos dentro de casa, ele poderia ter quantas mulheres quisesse,Minha mae teria que aceitar e apanhar todos os dias.Para a sorte das filhas ele tinha um pensamento que mulher teria que estudar para nao depender de homem.Mas sempre entre linhas ele dizia que tinhamos que estudar e casar com um homem rico.Eu primeira mulher em uma famlia de doze irmaos onde 05 faleceram sempre me considerei diferente de das minhas irmãs, das “amigas” daquele lugar.Ao completar 16 anos fui morar em Belo Horizonte, onde pude estudar e ser independente.Cresci vendo minha mãe sendo submissa e isto eu sabia que eu nao seria. Casei aos vinte anos e sustentei este casamento por 07 anos, Tive outros 02 casamentos. E sempre buscava algo nestes casamentos que hoje eu sei que era a liberdade. Fui casada com um homem que gostava de me ver relacionando com outros. Mas não permitia que passasse disso, não permitia que trocássemos telefones e só para o prazer dele. Cansei disto. Hoje estou só. Li sobre os RRL e sinto que era assim que eu via o relacionamento e não tive a sensibilidade para entender. Sempre admirava as mulheres do nordeste que tinham 02, 03, homens. Em Minas Gerais ainda não tem este movimento. Eu acho que não. Gostei tanto que pretendo ir ate Porto Alegre e quem sabe em um futuro muito próximo morar ai. Sou gerente comercial, estudante de direito e já abracei a causa de vocês. Tenho 02 filhos. E vejo a liberdade em tudo. Como disse o Rauzito: Viva a lei te Télemar. Você é livre para fazer o que quiser. Para se embreagar, para trabalhar, para dar cabo em sua vida se quizer, para praticar amor onde, a hora e com quem quizeres.
Vi a Roselita pela foto.Ela é linda e sabe o que quer… Admiro mulheres e homens que se sintam realmente livres e que antes de quererem ser amados que os ame primeiro.
Sorrah
Sou livre, Sou autosuficiente, quero muito poder amar e ser amada. Tenho muito amor para dar…
Esclarecimento I:
Constante é tido aqui no sentido matemático de propriedade que não varia com relação a uma dada outra grandeza/propriedade/varíavel independente ou mesmo função no contexto de funções compostas em que a variável “independente” (de ordem n+1=alfa) é uma função de outra variável independente (de ordem alfa – 1=n).
Exemplo: y=5, y=6, y=ln2, y=77,54Pi/ln(3^(1/e)) de e^5iPi, y=76/5436, y=0,992920, y=0,999999999…=1, y=ei/Pi, et caetera em que Pi é o número simbolizado pela letra grega Pi, e não o produto de uma variável P pelo número i =(-1)^0,5.
Errata I:
No trecho “Não quero com isto dizer que…”, o trecho correto é “Não quero dizer com isto que NÃO É LÍCITO …” (parte diferente está grifada).
Caro amigo,
algumas observações que creio ser pertinentes à temática aqui posta.
I. Para fins de convivência mais harmônica, as relações afetivas de cunho amoroso no sentido de amor entre namorados devem se dar preferencialmente entre amigos, embora, obviamente, haja o direito de alguém manter namoro com seu/sua inimig(o/a), o que não vem ao caso no presente momento.
II. A existência de “crimes passionais” em casais monogâmicos indica o fato de que NEM SEMPRE, isto é, NÃO OBRIGATORIAMENTE uma relação monogâmica significa que um vai dar a vida pelo outro. Ou seja, há vezes em que A RELAÇÃO AMISTOSA MODALIDADE NAMORO É VERDADEIRA, há vezes em que NÃO É.
II. a) ALGUNS PARADOXOS QUANTO AO IMPERATIVO CATEGÓRICO ESTAR DISPOSTO A MORRER PELO OUTRO, MESMO POR UM AMIGO MODALIDADE “NÃO-NAMORO” ou MESMO POR UM ESTRANHO, ISTO É, DISPOSIÇÃO ALTRUÍSTA DE MORRER. Seja alguém que está à beira de morte e é salvo por seu amigo geral ou por seu amigo parceiro. Neste ínterim, este amigo perde a vida PELA PESSOA AMADA. Pois bem! Todavia, a pessoa amada não evitou que seu parceiro morrese, lutando para que não fosse salva, já que SER SALVA IMPLICAVA QUE SEU AMADO MORRESSE. Desta forma, não esteve disposta a MORRER PELO COMPANHEIRO. Eis um paradoxo. Caso, os dois morram, AMBOS DERAM A VIDA PELOS DOIS. Uma forma otimizada de realizar isto seria SUICÍDIO EM DUPLA RECIPROCAMENTE ASSISTIDO diante situação de iminência de morte de um dos dois. Porém, CAUSOU-SE A MORTE DE AMBOS, LOGO NENHUM DOS DOIS PARCEIROS A E B SALVOU A VIDA DE NENHUM DOS DOIS PARCEIROS B E A. Eis outro paradoxo. Trocou-se um paradoxo por outro paradoxo, para resolver-se este último, o que talvez constitua um terceiro paradoxo. Todavia, não quero com isto dizer que arriscar a vida pelo amigo, incluindo parceiros eróticos/afetivos/sexuais.
II. b) Há circunstâncias em que pessoas arriscam a vida para salvar outras pessoas ou a si mesmas. Neste caso, a pessoa está “disposta” a ARRISCAR a vida pelo outro, mas evita suicidar-se, isto é, dar a vida pelo outro. O cunho probabilístico da morte é enfatizado. Deste modo, estar disposto a morrer deveria ser um IMPERATIVO HIPOTÉTICO, e não CATEGÓRICO. Ou seja, estar disposto a morrer deve ser uma relação não constante entre DISPOSIÇÃO, RISCO DE VIDA e POSSIBILIDADE DE ÊXITO.
III. O importante em ambas as relações, com um só parceiro, ou com mais de um parceiros, é a cumplicidade e a amizade. Claro que podemos nos enganar com nossos “amigos”, mas isto existe em ambos os tipos de relação, e em outros tipos de relação amistosa.
IV. O belíssimo romantismo que tanto enfatizas (um arriscar a vida pelo outro, um ser confidente do outro) também existe ou ao menos deveria existir entre amigos e “familiares”. Já ouviste a canção Amigos Para Siempre de José Carreras e Sarah Brightman, é uma canção sobre romantismo entre amigos.
V. Para fins de ressalva: O amor incondicional não pode ser confundido; e não afirmo NEM QUE O FAZES, NEM QUE NÃO O FAZES; com supervalorização do valor ético intrínseco dos entes em uma concepção ética que valoriza assimetrias sociais e uma política desigual dada a preconceitos e fobias de forte cunho nazifascista. Isto é, o fato de X, Y, Z, … e W, V, U, … se amarem não implica que X, Y, Z, W, V, U, … tratem A, B, C, … de modo distinto MERAMENTE via o CRITÉRIO de X, Y, Z, W, V, U manterem uma relação que não é mantida com um dado A, B, C, …
VI. Defender que A, X, Y, … tenham DIREITO a uma relação amistosa recíproca modalidade namoro NÃO SIGNIFICA que ESTE DIREITO É TAMBÉM UM DEVER NORMATIVO, com estrutura de IMPERATIVO CATEGÓRICO ou de FATO SOCIAL, imperativo “categórico” HIPOTETICAMENTE dado quando da formulação de sanções como códigos legislativo-jurídicos penais.
VII. Mudando levemente de assunto, há um conto, um tanto “comédia” [sic] – mas que demonstra também incoerência e hipocrisia de alguns indivíduos condicionados pela e produtos de sua sociedade disposta no espaço e no tempo – maravilhoso sobre a relação do amor com a lógica, entitulado “O Amor é Uma Falácia”, de Max Schulman.
Não estou convencido pelos seus argumentos…
Algum desses seus namorados daria a vida por ti?
Quando eu falo em amor, eu falo em amor incondicional, em ser capaz de dar a vida pela pessoa q ama.
E não, eu não escolho com quem minha namorada fica. Ela escolhe, e ela ME escolhe porque ela me ama e ama só a mim.
Mas como já está claro, temos mentalidades diferentes e podemos ser felizes cada um a sua maneira, desde que respeitando uns aos outros.
Espero não encontrar nenhuma pessoa da sua filosofia querendo insistir em se meter no meu relacionamento, por exemplo.
Assim como vocês não querem nenhum tipo de preconceito de quem possui uma mentalidade diferente
Vocês que compartilham essa filosofia jamais chegarão à felicidade que um casal que se ama de verdade consegue chegar.
Eu tenho uma namorada, nós nos amamos muito e confiamos a nossas vidas um no outro. Não nos sentimos mais como uma pessoa separada da outra, mas como um só.
Eu não vou perder meu tempo criticando a filosofia de vida de vocês, pois acredito que cada um sabe fazer suas escolhas sozinho.
Só acho que vocês não conseguirão se sentir completos, e talvez por ‘medo’ de não encontrar o parceiro ideal, o amor de suas vidas, decidem ir para o caminho mais fácil, que é esses em que vocês seguem, onde todos são de todos.
Acho que é muito importante para uma pessoa alcançar o extremo da felicidade e da realização na vida, poder contar com um parceiro para tudo, poder confiar e amar incondicionalmente, e por isso me pergunto como vocês conseguirão isso… Com o passar dos anos imagino que vocês vão se sentir vazios caso não encontrem um amor de verdade. Muitos não vão encontrar, por mais que acreditem nisso… é triste, mas nem todos conseguem isso.
Espero que vocês consigam ser felizes, assim como eu e minha namorada somos e vamos ser por toda nossa vida.
Gabriel,
Achei a tua forma de crítica muito válida, e tranqüila, mas acho que tens que verificar algumas das informações que utilizaste nela.
1º – Na sua frase: “jamais chegarão à felicidade que um casal que se ama de verdade consegue chegar”, queremos lembrar que está escrito em várias partes do blog que não somos contra casais, menos ainda os que se amam, inclusive eu formo belos casais com todos os meus namorados (que me amam). E que se tu for perguntar para qualquer filósofo ou psicólogo, ele te dirá que o critério de felicidade é relativo.
2° – Ou tu é “completo/inteiro” ou tu é alguém que “não se sente mais separado do outro, e forma com ele uma unidade”. Se és parte de alguma coisa, que não se completa sem o outro, tu não és completo. Se tu és completo, não precisa do outro pra te completar… pois já és um inteiro.
3° – “todos são de todos”? Não estou aqui para fazer caridade. Não fico com qualquer um que aparece pela frente. Sou de quem eu quero. E a única diferença de mim, para a sua namorada, é que eu escolho com quem eu fico, e quem escolhe com quem ela fica és tu.
4° – E sobre a frase: “Com o passar dos anos imagino que vocês vão se sentir vazios caso não encontrem um amor de verdade. Muitos não vão encontrar, por mais que acreditem nisso… é triste, mas nem todos conseguem isso.” Bem pelo contrário, temos mais chances de encontrar pessoas que amamos, não nos limitamos a fazer isso com uma pessoa por vez. E se “namoro fechado” fosse sinônimo de encontrar pessoas certas, não tinham inventado o divórcio.
Bom… eu teria uma quantidade bem grande de coisas para destacar na tua fala, mas acho que estas já mostram como somos diferente. Isso não te transforma em um infeliz, e também não nos transforma em infelizes.
Moralista, demagogo, idiota ! Isso sim.
Diz que não vai perder tempo criticando mas escreveu essa baita resposta.
É um coitado…
EXCELENTE texto! Sempre tive, desde criança (tenho 18 anos, cresci assistindo desenhos da Disney), uma impressão de que algo não estava certo com as heroínas das histórias citadas (pra mim todas conhecidas só através dos desenhos). Tanto que eu adorava A Bela e a Fera, e a heroína que até podia se apaixonar, mas que sabia muito bem o que queria, e não era viver em função de um homem.
Creio que vá demorar muito tempo para os pais perceberem essa relação, e principalmente para cair a ficha de que não é isso que é saudável passar para as filhas.