Trinta anos antes das rebeliões de juventude
e da “revolução sexual”…
Wilhelm Reich – 1936
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“Casamento indissolúvel
ou relação sexual duradoura?”
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“Os diversos autores chegam a buscar os argumentos mais estranhos e absurdos para justificar a manutenção do casamento indissolúvel. Esforçam-se, por exemplo, por demonstrar que o casamento e a monogamia são fenômenos naturais, isto é, biológicos. Procedem a árduas pesquisas entre as espécies animais que, incontestavelmente, vivem sem leis sexuais, para daí isolar as cegonhas e os pombos que – temporariamente – vivem em monogamia, donde logo concluem que a monogamia é ‘natural’. Paradoxalmente, o homem deixa de ser um ente superior, incomparável aos animais, quando se pretende defender a ideologia do sistema de casamento monogâmico.
Em contrapartida, quando se discute o casamento do ponto de vista biológico, esquece-se que a promiscuidade é a regra entre os animais; agora, subitamente, o homem volta a ser diferente dos animais e deve elevar-se a ‘um nível superior’ de atividade sexual, ou seja, o casamento monogâmico. O homem, proclama-se, é um ‘ser superior’, com uma ‘moralidade inata’, e a economia sexual é combatida, porque demonstra, efetivamente, que essa ‘moralidade inata’ é uma ficção. Ora, se a moralidade não é inata, só pela educação pode ser incutida. Quem realiza essa educação? A sociedade e sua fábrica de ideologia, a família autoritária fundada na monogamia compulsiva. Isso basta para demonstrar que a família não é um fenômeno natural, mas uma instituição social.
Quando se tende a admitir que o casamento não é uma instituição natural nem sobrenatural, mas, sim, uma simples instituição social, tenta-se de imediato provar que a humanidade viveu sempre na monogamia, negando-se quaisquer evoluções e mudanças das formas sexuais. Chega-se ao ponto de falsificar a etnologia, para estabelecer a seguinte conclusão: se os homens sempre viveram na monogamia, daí se pode concluir que esta instituição é indispensável à existência da sociedade humana, do Estado, da cultura e da civilização. Omitem-se todos os ensinamentos da história que demonstram terem também existido a poligamia e a promiscuidade sexual, as quais desempenharam papel de grande importância. Mas, para contornar essa objeção, a ideologia monogâmica substitui então o ponto de vista da moralidade inata pelo da evolução.”
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